"Mesmo em meio às chuvas e tempestades que sombreavam o local onde vivia, ousava olhar para o alto das colinas que circundavam o pequeno vilarejo. De lá sopravam os ventos que traziam, com suavidade e leveza, o perfume da mata e algumas folhas sopradas ao vento. Esse perfume transparecia através da visão de flores tridimensionais que sussurravam em seu quarto nas noites escuras, clareando as ideias e trazendo a abertura de portais. Através delas ela já não vivia mais ali, naquele lugar frio e insosso, mas podia transportar-se para um mundo onde ela também vivia, um lugar cheio de luz e acolhimento. Então percebeu que não encontrava-se enclausurada, bastava sonhar e chegaria às estrelas que banhavam o doce céu daquelas montanhas. Lá estava alguém que amava, um anjo lúcido e livre, o responsável pela abertura dos portais e envio dos sinais. Mesmo sonhando com aquele mundo sabia que também amava as chuvas, o vilarejo e às almas que por lá circulavam. Sabendo disso o anjo voou, voou com tanta vontade que se fez gente, colocou -se ao lado dela, acariciou seus cabelos, olhou profundamente para as montanhas e sonhou em ir até o topo de uma delas. Deram as mãos e passaram a sonhar juntos. A partir de então, criariam um mundo ali mesmo, que poderiam chamar de lar."
Renata Feltrin
